O
RUMOR DAS DISTÂNCIAS ATRAVESSADAS: O LUGAR CIGANO E OS OUTROS LUGARES.
Carla Alberta Gonzalez
PALAVRAS CHAVES: Território.
Ciganos. Temporalidades.
Quando
falamos de nomadismo e mobilidade territorial estamos falando de populações deslocadas
em massa, que povoam a história com suas sombras. Refugiados que se instalam em
zonas de espera, zonas temporárias, acampamentos de transito. Jogados de uma
terra para outra, homens, mulheres, crianças, velhos reduzidos a meros “lapsus”
de tempo durante todo o processo de deslocamento.
O
que se registra é que um deslocamento espacial não necessariamente é um deslocamento
no tempo. O tempo para essas populações com situações urbanas particulares é
meramente desarticulado. Os sedentários nômades ciganos.
Sempre
é bom refletir sobre a natureza de uma população quando ela é separada de seu
território: como é reduzida uma população quando ela é desvinculada de suas
estruturas sociais e territoriais? Fica a proposta de uma reflexão provocativa
para a histórica social e para os Direitos Humanos: como se preparam essas
populações ciganas em transito dentro de seus territórios previamente
delimitados a partir de suas necessidades econômicas e sociais?
Os
homens, mulheres, barracas, tendas, as formas, a fogueira, o imaginário.. Tudo
relativamente composto e decomposto para novos espaços e novos territórios. Um
longo périplo, composto de tantas experiências múltiplas, hibridas e dinâmicas.
Convém
então pontuar o confronto da cidade e de seus habitantes com essas múltiplas temporalidades
cruzadas ao longo de toda essa permanência. E diante desse movimento existe um
afetamento nas múltiplas experiências que é o próprio ritmo cronológico que
envolve tanto movimento quanto perspectiva. Como, portanto se deslocam esses
grupos muitas vezes composto de mais de cem pessoas com fortes laços de
parentesco e como se assume esse grupo transportados em cada zona de espera.
Nesses
períodos de espera, zonas temporárias, qual a singularidade das temporalidades
e do transito do grupo em suas simbólicas estruturas de “cidade”, o acampamento
é a cidade cigana em zona de espera.
Se
vamos entender as populações ciganas hoje semi sedentárias temos que partir do
movimento de deslocamento do próprio grupo nesses territórios de origem e de
força social.
Este
artigo, portanto vai transitar na teoria antropológica contemporânea que
norteia o “lugar” com o “outro” e através dos rumores produzidos pelos grupos
ciganos em todas as distâncias atravessadas vai mapear esses territórios e seus
grupos:
“lugar
que é território para a sociedade e é corpo para o individuo. Assinala-se desde
já a possibilidade de (trans) figuração da abordagem ao lugar como se fosse
corpo, pois ambos são espaços habitados onde as relações de identidade e alteridade
não cessam de actuar”. ( Augé, 1999:141)
Reescrever
a história territorial dos Ciganos é contar também uma história de zonas de
espera, de rupturas , de rejeição, de exclusão, de temporalidades múltiplas,
nomadismo e sedentarismos. Sempre na margem antagônica das relações sociais e
de poder repleto de multiplicidades nas relações do próprio grupo e do grupo
com os gajons:tradição/renovação;fascínio/repulsa:unidade/fragmentação;coletividade/individualismo.
O
movimento migratório é desmontado, transportado, instalado transitoriamente
outra vez desmontado, transportado e novamente instalado temporariamente a cada
entre lugar. A comunidade Cigana evolui transitoriamente sem jamais se
dissolver. É preciso interpretar o possível e o provável dessas relações a
partir dos indícios mais íntimos, dessas informações fragmentadas onde se forma
as identidades dos grupos Ciganos e as imagens simbólicas construídas nestes
longos périplos.
GT1-
DIREITOS HUMANOS E POLITICAS DE INCLUSÃO E ACESSIBILIDADE.