sexta-feira, 6 de março de 2009

O século do vento: Retrato de um embaixador Imperial.

Retrato de um embaixador Imperial: No texto abaixo, o escritor uruguaio Eduardo Galeano ironiza a dominação norte-americana, em um retrato às vésperas da Revolução Cubana.

Earl Smith, embaixador do Estados Unidos, recebe as chaves da cidade de Santiago de Cuba. Enquanto transcorre a cerimônia e se derramam, caudalosos, os discursos, um clamor vem crescendo no outro lado das cortinas. O embaixador aparece secretamente na janela e consegue ver uma quantidade de mulheres vestidas de negro, que avançam cantando o hino nacional e gritando “liberdade. Os policiais as derrubam a cacetadas.
No dia seguinte, o embaixador visita a base militar norte-americana de Guantánamo. Depois percorre as minas de ferro e níquel de Freeport Sulphur Company, que graças aos seus empenhos acabam de ser exoneradas de impostos. O embaixador torna público o seu desgosto pelas cacetadas da policia, embora reconheça que o governo tem o direito de se defender da agressão comunista. Os assessores explicaram ao embaixador que Fidel é anormal desde a infância, depois de um tombo de motocicleta.
O embaixador, que foi campeão de boxe em seus tempos de estudante considera que é preciso manter a qualquer preço o general Batista. Batista jamais negará proteção a nenhuma coisa ou pessoa que seja dos Estados Unidos. Com Batista o poder no poder, os turistas podem escolher pela fotografia do avião uma linda mulata para o fim de semana. Havana é uma cidade norte-americana, cheia de maquinas caça-níqueis de Nevada e mafiosos de Chicago, com muitos telefones para pedir que alguém mande pedir um jantar quentinho no próximo vôo de Miami.

Galeano, Eduardo. O século do Vento.

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